quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece."


[Poema de Aniversário - Vinicius de Moraes]

segunda-feira, 25 de abril de 2011


"..Que friagem nenhuma seja capaz
de encabular o nosso calor mais bonito.
Que, mesmo quando estivermos doendo,
não percamos de vista
nem de sonho
a ideia da alegria.."


[Ana Jácomo]

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Sinto o abraço do tempo apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos, gostar mais de hoje
E gostar disso
Me vejo com seus olhos, tempo
Espero pelas novas folhas
Imagino jeitos novos para as mesmas coisas
Logo eu que queria ficar
Pra ver encorparem os caules
Lá vou eu, eu queria ficar
Pra me ver mais tarde,
Sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido dissolver o que é concreto
E vejo o tempo em seu claroescuro
Vejo o tempo em seu movimento
Me marcar a pele fundo, me impelindo, me fazendo
Logo eu que fazia girar o mundo,
Logo eu, quem diria, esperar pelos frutos
Conheço o tempo em seus disfarces, em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses se o meu amor demora
E vejo bem tudo recomeçar todas as vezes
E vejo o tempo apodrecer e brotar
E seguir sendo sempre ele.
O tempo todo começar de novo
E ser e ter tudo pela frente."


[A. Calcanhotto]

quarta-feira, 13 de abril de 2011

“..Eu também não queria perguntar, pensei que só no silêncio fosse possível construir uma compreensão, mas não é, sei que não é, você também sabe, pelo menos por enquanto, talvez não se tenha ainda atingido o ponto em que um silêncio basta? É preciso encher o vazio de palavras, ainda que seja tudo incompreensão? Só vou perguntar porque você se foi, se sabia que haveria uma distância, e que na distância a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que está esquecendo..”


[Caio]

terça-feira, 12 de abril de 2011




"..De vez em quando precisamos sacudir a árvore das amizades para caírem as podres.."


[Mário Silva Brito]

quinta-feira, 7 de abril de 2011


"..Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim – enfim, mas que medo – de mim mesma.."


[Clarice Lispector]

quarta-feira, 6 de abril de 2011

De uns tempos pra cá
os móveis, a geladeira
o fogão, a enceradeira
a pia, o rodo, a pá
coisas que eu quis comprar
deu vontade de vender
e ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

De uns tempos pra cá
o carro, a casa, o som
tv, vídeo, livros, bom...
o que em tese faz um lar
admito eu quis comprar
começo a me arrepender
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar

De uns tempos pra cá
o pufe, a escrivaninha
sabe a mesa da cozinha?
lençóis, louça e o sofá
não precisa se alterar
pensei em me desfazer
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

De uns tempos pra cá
telefone, bicicleta
minhas saídas mais secretas
tô pensando em deixar
dê no que tiver que dar
seu amor me basta ter
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá

Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar


[Chico Cesar]

terça-feira, 5 de abril de 2011


"..o Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundezas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, muidinho, não se importando demais com coisa nenhuma.."


[Guimarães Rosa]

segunda-feira, 4 de abril de 2011


"..Em todas as idas e vindas, obscuramente eu sempre sabia:
embora tudo mude, nada muda por que tudo permance aqui dentro,
e fala comigo, e me segura no colo quando eu mesma não consigo sustentar.
E depois me solta de novo, para que eu volte a andar pelos meus próprios pés.
A vida é mãe nem sempre carinhosa, mas tem uma vara de condão especial: o mistério com que embrulha todas as coisas, e algumas deixa invisíveis.."



[Lya Luft]