sexta-feira, 28 de maio de 2010






“Sem pensar em mais nada, fecho os olhos para esquecer. Dorme, menino, repito no escuro, o sono também salva. Ou adia”.
[Caio Fernando Abreu]

quarta-feira, 19 de maio de 2010



"..e eu me parava a refletir - como era doce.
Era uma armadilha perigosa - ainda que não proposital - para a minha imaginação, para a minha delicadeza, talvez para a minha vaidade; para tudo que era mais sustentável em mim. A melhor maneira de descrever a situação é dizer que eu estava desprevenida.."

[Henry James - A volta do parafuso]

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada. Eu sei,não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória,sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.“



[Martha Medeiros]

sexta-feira, 14 de maio de 2010








"..So affections fade away,
or do adults just learn to play
the most ridiculous, repulsive games?.."


[The Shins - Turn on Me]

quarta-feira, 12 de maio de 2010





"..Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro.."

[Caio Fernando Abreu]

terça-feira, 11 de maio de 2010


"..Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento.
Ser nova.."


[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, 10 de maio de 2010


As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides… Que importa se –
depois de tudo – tenha “ela” partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura…
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.


[Mario Quintana]

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"Enquanto isso, vá me estendendo a mão, que eu preciso dela. Se você não diz nada, é porque há muita coisa dentro de você. Eu gostaria que você confiasse um pouquinho mais em mim. É isso que eu chamo de jogo unilateral. Não pense que eu só ando atrás só de "belas coisas simples". Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloquentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim.."

[Maury Gurgel à Clarice Lispector]

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais – por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou “quase” certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu “quase” tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!



[Caio F. Abreu]

sábado, 1 de maio de 2010


É o amor. Terei de me esconder ou de fugir.
Crescem as paredes da sua prisão, como num sonho atroz.
A bela máscara mudou, mas como sempre é a única.
De que me servirão os meus talismãs: o exercício das letras, a vaga erudição, a aprendizagem das palavras que o agreste Norte usou para cantar os seus mares e as suas espadas, a serena amizade, os corredores da Biblioteca, as coisas vulgares, os
hábitos, o jovem amor da minha mãe, a sombra militar dos meus mortos, a noite intemporal, o sabor do sonho?
Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo.
O cântaro já se quebra na fonte, o homem já se levanta à voz das aves, os que olham pelas janelas já se escureceram, mas a sombra não trouxe a paz.
É, sei já bem, o amor: a ansiedade e o alívio de ouvir a tua voz, a espera e a memória, o horror de viver no sucessivo.
É o amor com as suas mitologias, com as suas pequenas magias inúteis.
Há uma esquina por onde não me atrevo a passar.
Já me cercam os exércitos, as hordas.
(Este quarto é irreal; ela não o viu.)
O nome de uma mulher denuncia-me.
Dói-me uma mulher em todo o corpo


[Jorge Luis Borges]