sábado, 1 de maio de 2010


É o amor. Terei de me esconder ou de fugir.
Crescem as paredes da sua prisão, como num sonho atroz.
A bela máscara mudou, mas como sempre é a única.
De que me servirão os meus talismãs: o exercício das letras, a vaga erudição, a aprendizagem das palavras que o agreste Norte usou para cantar os seus mares e as suas espadas, a serena amizade, os corredores da Biblioteca, as coisas vulgares, os
hábitos, o jovem amor da minha mãe, a sombra militar dos meus mortos, a noite intemporal, o sabor do sonho?
Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo.
O cântaro já se quebra na fonte, o homem já se levanta à voz das aves, os que olham pelas janelas já se escureceram, mas a sombra não trouxe a paz.
É, sei já bem, o amor: a ansiedade e o alívio de ouvir a tua voz, a espera e a memória, o horror de viver no sucessivo.
É o amor com as suas mitologias, com as suas pequenas magias inúteis.
Há uma esquina por onde não me atrevo a passar.
Já me cercam os exércitos, as hordas.
(Este quarto é irreal; ela não o viu.)
O nome de uma mulher denuncia-me.
Dói-me uma mulher em todo o corpo


[Jorge Luis Borges]

Um comentário :

-rayane- disse...

nossa, que texto perfeito monster.

putz.


te amo.

obrigada pelos sorrisos e a companhia do final de semana.